Ao observar o radiante sorriso da adorável Vittoria, uma bebê robusta de 5 meses, ninguém poderia suspeitar das incríveis provações enfrentadas por sua mãe antes de sua chegada. Talita Scupino, uma jovem de 27 anos da cidade costeira de Peruíbe, no estado de São Paulo, jamais imaginou que seria possível engravidar, e até chegou a pensar que isso não aconteceria sem tratamento médico. Contudo, a vida tinha outros planos. Durante seu acompanhamento pré-natal, foi revelado que Talita estava lutando contra o câncer no ovário. Ironicamente, logo após dar à luz por meio de cesárea, cirurgiões tiveram que remover 66 tumores de seus órgãos abdominais. Em uma entrevista exclusiva concedida à revista CRESCER, ela compartilhou, “Se não fosse pela gravidez, eu nunca teria descoberto o câncer.”
Talita relata que o ponto de partida foi em abril de 2022, quando ela identificou a presença de dois tumores nos ovários, um no lado direito e outro no lado esquerdo, conhecidos como teratomas. Esses tumores são considerados benignos, embora possam causar dor caso sofram torção, e foi exatamente isso que ocorreu no seu caso. Ela compartilha, “Eu nasci com esses tumores, mas só podem ser detectados por meio de exames como raio-x ou ressonância, ou quando causam torção. No meu caso, só percebi devido à intensa dor que experimentei.” Vale ressaltar que os tumores eram de tamanho considerável, com um deles medindo 22 centímetros e o outro 10 centímetros. Para eliminar esses tumores, Talita precisou se submeter a uma cirurgia, resultando na remoção do ovário direito, que era a localização do teratoma de maior dimensão.
Entretanto, a realidade reservava uma surpresa inesperada. Três meses após a remoção dos teratomas, Talita começou a experimentar sintomas que a levaram a cogitar a possibilidade de uma recorrência dos tumores. No entanto, a notícia era positiva: ela estava grávida. Com cautela, ela expressou, “Eu disse que só acreditaria nisso após fazer o ultrassom.” Quando o exame foi realizado, a confirmação era evidente: ela estava, de fato, esperando um bebê. No entanto, a médica que avaliou as imagens notou a presença de um pouco de líquido na cavidade abdominal de Talita, algo inesperado. A situação foi atribuída à cirurgia recente pela qual Talita havia passado apenas alguns meses antes.
Nos exames subsequentes, a presença do líquido anômalo persistia, e em novembro, os médicos optaram por internar Talita para uma investigação mais aprofundada. Ela relembra: “No entanto, não conseguiram encontrar nenhuma explicação e eu fui liberada.” Entretanto, no mês seguinte, em dezembro, ela começou a experimentar dores intensas, ganho de peso substancial e inchaço considerável. Inicialmente, ela atribuiu isso ao progresso normal da gravidez. Além disso, enfrentava uma significativa falta de ar. Em um determinado dia, a situação a levou a buscar atendimento na maternidade. Talita explica: “Dirigi-me à maternidade em Peruíbe, mas fui encaminhada para outro hospital em Santos, com capacidade para lidar com casos mais complexos. A primeira medida que tomaram lá foi realizar um raio-x do pulmão, devido à minha dificuldade respiratória, e foi quando diagnosticaram a presença de um derrame pleural, com acúmulo de líquido nos dois pulmões.”
Talita indagou sobre a natureza do tumor, notando que os médicos evitaram explicitamente a palavra “câncer”. A resposta que recebeu foi que, naquele momento, não era possível ter certeza, mas, com base em seu histórico e progressão, havia uma probabilidade de que o tumor fosse maligno. Ela compartilha: “Chegaram até a considerar a possibilidade de interromper a gravidez devido à necessidade de quimioterapia.” Posteriormente, após uma revisão de seus exames realizados na época da descoberta do teratoma, o médico esclareceu que, na verdade, ela já estava enfrentando um câncer antes de engravidar. Os teratomas, removidos cirurgicamente, eram benignos, mas seus dois ovários já estavam comprometidos pelo câncer. Devido a esse diagnóstico incorreto, ela não iniciou a quimioterapia antes da gestação, o que não deveria ter ocorrido. Talita relata: “O médico chegou a mencionar que não compreendia como eu consegui engravidar, porque geralmente, em casos de câncer no ovário, a ovulação não ocorre ou, se acontece, os óvulos podem apresentar defeitos.” E quanto ao medo?
Contra todas as probabilidades, a realidade era inegável: Talita enfrentava uma gestação enquanto lutava contra o câncer ovariano. Apesar do risco de sequelas para sua filha, ela estava determinada a prosseguir com a gravidez. Paralelamente, iniciou o tratamento com sessões de quimioterapia. Ela recorda os momentos difíceis, dizendo: “Eu enfrentava episódios de náusea intensa e vômitos frequentes. Ficava preocupada, imaginando que, ao expulsar tudo o que consumia, minha filha poderia sofrer com a falta de nutrientes.” O esposo de Talita, Bruno, teve que deixar o emprego para cuidar dela, o que resultou em desafios financeiros significativos. Eles chegaram até a criar uma campanha de financiamento coletivo para buscar ajuda.
Apesar das possíveis consequências, Vittoria veio ao mundo gozando de perfeita saúde, com a única ressalva de ser prematura e, por conseguinte, necessitar ganhar peso. Sua mãe compartilha: “Ela passou 33 dias na UTI, mas tudo isso foi para alcançar os 2kg de peso.”
As vivências de Talita continuavam a desafiar suas emoções. Logo após a cirurgia, sua saúde deteriorou-se significativamente, e ela foi submetida a novas avaliações médicas. Seu sistema intestinal deixou de funcionar corretamente, levando a episódios frequentes de vômitos. Os médicos precisaram inserir uma sonda e administrar medicamentos para restaurar a funcionalidade do seu sistema digestivo. Ela compartilha: “Quando finalmente voltou ao normal, enfrentei cerca de duas semanas de diarreia.” Posteriormente, houve um aumento na pressão arterial, o que a levou a ser readmitida na UTI para monitoramento e controle.
Após receber alta e obter o diagnóstico referente aos 66 tumores removidos, Talita começou a sentir que a tormenta estava diminuindo. Ela agora tinha uma filha saudável, os tumores tinham sido extirpados e os exames indicavam que, aparentemente, não havia mais evidências de células cancerígenas – embora avaliações adicionais fossem necessárias para confirmar isso.