Era para ser mais uma aventura entre tantas outras. Juliana Marins, brasileira, mochileira, corajosa e amante de trilhas, decidiu encarar o desafio de subir o Monte Rinjani, na ilha de Lombok, na Indonésia. Mas o que era sonho virou tragédia: Juliana foi encontrada morta após sofrer uma queda durante a trilha no vulcão. O acidente, além de abalar amigos e familiares, acendeu alertas sobre os riscos de certos roteiros turísticos também despertou a atenção sobre o misticismo em torno do local.
O Rinjani, com seus mais de 3.700 metros de altitude, não é apenas um ponto turístico. Ele é sagrado. Para o povo Sasak, que vive na ilha, o monte é mais que uma montanha é quase uma entidade. Morada de espíritos ancestrais, berço de lendas, e um elo entre o mundo dos vivos e o dos mortos. Eles acreditam que ali habitam protetores invisíveis, guardiões de outra dimensão, capazes de trazer cura, descanso e até consolo à alma inquieta.
Juliana não sabia, talvez, que pisava num solo considerado portal espiritual. Ou sabia e, como muitos viajantes, se encantou com a energia do lugar sem entender direito o que ela significava. O monte é reverenciado em rituais que acontecem tanto no seu cume como no lago da cratera, o Segara Anak. E aqui a história fica ainda mais profunda.
“Segara Anak”, que em indonésio significa “filho do mar”, é um lago cercado por pedras vulcânicas e brumas silenciosas. A água é fria, calma, quase imóvel. Segundo a crença dos moradores locais, as águas nasceram do próprio mar, e carregam poderes de cura. Místicos ou não, muitos dizem que só de estar ali, já se sente uma paz difícil de explicar. Há quem diga que é o coração do vulcão. Outros, que é onde as almas se purificam antes de seguir viagem.
Mas nem tudo é poesia. Subir o Rinjani exige preparo físico, mental e espiritual e nem sempre o turista sabe disso. É trilha íngreme, o ar vai rareando, e a paisagem, embora linda, esconde perigos. O acidente com Juliana reacende uma velha discussão: até que ponto o turismo de aventura tá preparado pra garantir segurança? E até onde vai o respeito pelas tradições dos povos que vivem nesses lugares?
A tribo Sasak não costuma falar muito com estrangeiros sobre as energias do monte. Eles veem os turistas com um certo misto de curiosidade e receio. Pra eles, Rinjani não é cenário de Instagram. É lugar de oferenda, de silêncio e de conversa com o invisível. O que aconteceu com Juliana, apesar da dor, foi recebido com muita compaixão. Houve quem deixasse flores e acendesse incensos em sua homenagem.
A morte dela ali, num lugar tão carregado de simbologia, acabou provocando reflexões. Será que ela encontrou, mesmo sem querer, o tal “portal” que os nativos tanto falam? Difícil dizer. Mas sua história agora faz parte da história daquele lugar. Um nome a mais nas memórias do Rinjani, que já carrega tantas.
No fim, resta o luto, o respeito e talvez, pra quem acredita, a certeza de que Juliana partiu num lugar onde o céu toca a terra. Um lugar sagrado, sim onde a vida, a morte e o renascimento andam lado a lado, como acreditam os antigos de Lombok.