Em depoimento, Cid diz que Bolsonaro enxugou minuta e ordenou prisão de Moraes

No último depoimento prestado ao STF, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid soltou uma bomba: disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro não só teve acesso como chegou a mexer em um documento que falava sobre a reversão do resultado das eleições de 2022. Sim, aquilo mesmo que muita gente achava que era só teoria da conspiração — agora tem testemunha dizendo que existiu e foi revisado pelo próprio Bolsonaro.

Segundo o relato de Cid, o texto original sugeria coisas bem pesadas, como a prisão de autoridades — entre elas o ministro Alexandre de Moraes. Isso mesmo, prender ministro do Supremo. Cid contou que Bolsonaro teria editado esse documento, cortando justamente as partes que envolviam certas prisões. “De certa forma, ele enxugou o documento, retirando autoridades das prisões, ficando somente o senhor como preso. O resto…”, disse ele durante o interrogatório. Moraes, com seu estilo ácido de sempre, soltou na lata: “O resto foi conseguindo um habeas corpus”.

O depoimento continuou revelando bastidores de um clima político tenso e cheio de insinuações sobre tentativas de golpe. Cid disse que, apesar de não existir um grupo articulado — tipo uma organização com reuniões marcadas e plano em papel — havia sim várias pessoas que iam até Bolsonaro, individualmente, sugerindo ideias, cada uma mais absurda que a outra. “Não eram grupos organizados que iam junto ao presidente. Eram pessoas que levavam ideias. Tinham dos mais conservadores aos mais radicais”, contou ele.

E quando o ministro Moraes quis saber os nomes desses personagens, Cid não se esquivou tanto. Citou algumas figuras, entre elas o nome de Garnier, que ele classificou como “um dos mais radicais”. Essa fala, inclusive, causou um rebuliço na sala. Assim que Garnier foi mencionado, os advogados dele começaram a se mexer. Um deles, que estava na plateia, foi até Demóstenes Torres (que estava do lado do ex-comandante da Marinha) e cochichou alguma coisa no ouvido dele enquanto folheava uns papéis — típico movimento de quem sentiu o baque e já tava tentando articular a reação.

Do outro lado do espectro político-militar, Cid citou o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira como alguém mais comedido. Um tipo de contraponto, digamos assim, à ala radical que queria ir além do discurso e, talvez, até da legalidade.

O depoimento de Cid, que aconteceu num momento em que o país ainda digere os reflexos das eleições e os ecos de 8 de janeiro, adiciona mais lenha na fogueira política que insiste em não apagar. E mostra que os bastidores do poder são muito mais confusos — e até perigosos — do que a maioria imagina. Uma coisa é certa: esse capítulo da história recente do Brasil ainda tá longe de terminar.

Aliás, vale lembrar que Mauro Cid não é qualquer um. Foi um dos homens mais próximos de Bolsonaro durante o mandato. Ou seja, quando ele fala, é bom ouvir com atenção — mesmo que nem tudo o que diga seja possível provar de imediato. No mínimo, acende vários alertas sobre o que realmente acontecia nos bastidores de Brasília enquanto o país assistia, atônito, ao desfecho das urnas.